Título
Armindo Pereira da Costa
Direitos
Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vizela
Data
1877
Data de criação
1877
Descrição
Armindo Pereira da Costa foi o fundador e 1º Comandante dos Bombeiros Voluntários de Vizela.
Tema
Comandantes
Agradecimento e memória
Armindo Pereira da Costa
conteúdo

Armindo Pereira da Costa, nasceu na Lameira, a 11 de Dezembro de 1854, filho de Francisco Pereira da Costa e de Miquelina Rosa da Silva, comerciantes e “neto paterno da Tia Josefa da Estalagem que D. António da Costa com tão vivas cores pintou no seu livro O Minho.”1 Terminada a Instrução Primária foi trabalhar na tabacaria do pai, ponto de encontro dos aquistas que vinham passar o verão às termas de Vizela, entre eles Fontes Pereira de Melo, D. António da Costa, Camilo Castelo Branco. Abade de Tagilde, Conde de Arnoso e muitos outros com quem teve o prazer de conviver. De forma autodidata aprendeu latim e francês.

Em 1978, emprega-se como 1º Chefe da Estação de Telégrafo Postal de Vizela, criada nesse ano.

Foi ainda agente do Banco de Guimarães em Vizela.2

Durante mais de duas décadas a sua história de vida pode ser contada através da história dos Bombeiros Voluntários de Vizela, a quem deu o corpo e o coração. Corria a noite de 23 de abril de 1877.

“Na noite de 23 pelas 11 horas apegou-se o fogo à casa de Manoel Pedroza de Santa Suzana, sendo a causa estar esboracado o soalho da cosinha, e nos baixos estar tudo cheio de madeira secca e lenha. Diz-se que uma criança brincando com o lume, saltára fóra do lar cahindo pelas fendas do soalho apegando-se à lenha e madeira e depois ao sobrado. Ao brado de fogo e do toque do sino acudio muito povo e felizmente o exterminaram salvando o melhor da casa e toda a mobília. E calculado o proejuizo de 200$00 reis. Este fogo despertou a iniciativa do inteligente mancebo Armindo Pereira da Costa a promover uma Companhia de Bombeiros Voluntarios. … Oxala não descure e que os seus votos sejam coroados de louros, chamando nós atenção para a coadjuvação da ilma. Camara e companhias de seguros que recebem daqui grandes proveitos.”3

Já o povo dizia que o maior ladrão é o fogo e assim, Armindo Pereira da Costa, inicia os trabalhos da construção da grandiosa obra que tanto honra e prestígio traz a Vizela: os Bombeiros Voluntários de Vizela. Em novembro, reúne alguns amigos em sua casa, fala-lhes do projeto, expõe o seu raciocínio, apela à compreensão de todos e pede apoio para a sua concretização.

Constitui-se uma Comissão Promotora, da qual fazem parte Armindo Pereira da Costa, António Pedro Barros Lima, António José Dias Pereira, Abílio Torres, Joaquim Ribeiro da Costa, António de Azevedo Varela, Luís Antunes Pereira, Joaquim de Freitas Ribeiro Faria, Joaquim Pinto de Sousa e Castro, João Ribeiro de Freitas Guimarães e Clemente Marcelino de Oliveira, com a missão de desenvolver os esforços necessários para a formação da associação.

É nomeada a primeira Direção, chefiada por Abílio Torres e como 1º e 2º comandante, respetivamente, são nomeados Armindo Pereira da Costa e Joaquim António da Silva. Sensibiliza-se a comunidade e realizam-se diversas campanhas de recolha de donativos.

“Como dissemos por iniciativa do inteligente mancebo Armindo Pereira da Costa, encarregado da estação do correio, que promoveu para se organizar aqui uma companhia de bombeiros voluntários de que foi previamente instalada uma comissão composta pelos srs. António Dias Pereira, João Ribeiro de Freitas, e d ‘elle iniciante, foram os seus esforços coroados do melhor êxito, pois que a maior parte dos vizelenses abraçaram gostosos tão feliz lembrança, colhendo donativos de uma subscrição, que já chegaram para comprar uma bomba de dous esguiches, duas escadas, salvas vidas e outros aprestes acessórios da bomba, que já devem vir no fim d’esta semana, tendo para isso a comissão ido ao Porto fazer estas compras a semana passada.”4

Apesar dos apelos feitos às autoridades para auxiliarem a nova corporação, da Câmara de Guimarães não se recebem notícias. Pelo contrário os Bombeiros Voluntários de Guimarães recebem a corporação vizinha de braços abertos.

“Chegou sabado (28) a bomba para os voluntários e no domingo de tarde vieram de surpresa o 2º commandante e alguns voluntários de Guimaraes juntamente com o inspector dos bombeiros municipaes, Carlos D’Araujo Abreu, todos com o seu uniforme, prestando-se a trabalhar na bomba, escadas e salva vidas, numa casa de dous andares situada no largo d’Alameda, dando assim uma bella licao aos voluntários de Vizella. … findo o exercício foi-lhes servido um lunch .. durante o qual se trocaram brindes entre os bombeiros voluntários de Vizella e Guimaraes, confraternizando-se mutuamente.”5

A 8 de maio de 1877 é fundada a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vizela. A corporação, composta por 30 homens devidamente uniformizados e equipados, e liderados por Armindo Pereira da Costa, 1º comandante, e Joaquim António da Silva, 2º comandante, apresenta-se à população num desfile pelas ruas de Vizela. “Os bombeiros voluntários tem feito exercício no domingo e quinta-feira, nas casas mais altas da Alameda, e vão muito bem; com poucas mais liçoes ficam prontos a poderem trabalhar publicamente na presença dos bombeiros amestrados. O seu primeiro comandante é incançável e todos os bombeiros tem vontade e perícia …”6

A nova corporação podia agora garantir a segurança contra incêndios “não só aos 500 fogos e 2000 habitantes, tantos contava a Vila de Vizela nessa data, mas também às populações e fogos de mais 14 Freguesias vizinhas, já nessa altura a cargo da nossa Corporação."7

A 25 de agosto de 1877 surge o primeiro serviço dos Bombeiros Voluntários de Vizela, num prédio da Rua Joaquim Pinto, e a prestação do 1º comandante e de todos os bombeiros é objeto de valorização. “De prompto acudiu a bomba que pouco funcionou extinguindo-o logo … Desde o primeiro comandante ao último bombeiro todos trabalharam com tanta vontade e inergia, que ao fim do fogo estavam banhados em suor."8 “

O combate ao segundo e terceiros incêndios são também um sucesso.
"São já 3 os incêndios que tem sido sufocados por esta instituição, tendo-nos escapado de noticiar o último, que foi na noite do fogo da festa de Nossa Senhora do Rosario, em S. João das Caldas (27 de abril) por efeito d’ um foguete. Viu-se pegado o fogo num cume d’um moinho, que se não fosse o prompto socorro, passaria a toda a moagem e e ao engenho d’azeite, o que seria um grande incêndio se não fosse de prompto apagado, sendo o prejuízo calculado em somente 4$500 reis. O dono da moagem no dia seguinte escreveu uma carta a Armindo Pereira da Costa agradecendo-lhe muito o prompto e bom serviço prestado à sua propriedade e lhe pedia que assim fizesse saber a todos os bombeiros o seu reconhecimento. À vista, pois, d’isto, quem deixará de concorrer para o seu engrandecimento?”9

1º comandante entre os primeiros, Armindo Pereia da Costa, serviu os Bombeiros de Vizela com devoção e sacrifício, como nos atesta a história que a seguir conto.

“Um dia o Presidente João Franco, que muito o admirava e estimava, ofereceu-lhe uma Comenda. Armindo Pereira da Costa, com o aprumo moral e intelectual que lhe era peculiar, redargiu-lhe serenamente: Nunca a usaria snr. Presidente, porque a não mereço. A melhor comenda que posso ter é a certeza que cumpri o meu dever, como homem e como Vizelense. Em lugar da venera que aliás muito agradeço, dê-,me Vª Exª uma esmola para a minha pobre Corporação. Isso sim, aceito e agradeço do fundo da minha alma."10

De 1877 a 1899 exerceu a função de 1º Comandante com brio e orgulho, reconhecido e amado por todos. Grande parte da sua fortuna pessoal foi gasta nos bombeiros, pelo que, em 1899 vê-se forçado a emigrar para o Brasil, Pará, “com os seus bens muito comprometidos dando não só tudo o que possuía para sustentar a Corporação como as viúvas e órfãos dos seus camaradas vizelenses.

Ali, mercê das suas belas qualidades de inteligência, honestidade e trabalho, consegue em poucos anos fazer uns cursos singulares de Português, Francês, História, Geografia e Cálculo Comercial. Tempos depois organiza a Sociedade Comercial Armindo Pereira da Costa & C.ª Lda. – armazéns de Exportação de café, borracha e madeiras exóticas que em pouco tempo prosperava, proporcionando-lhe e aos seus um certo bem-estar material e à sua querida Corporação a que enviava sempre o seu óbulo mensal.

Os seus camaradas vizelenses com uma gratidão digna de registo não se esquecem também e decidiram em assembleia não aceitarem outro 1º Comandante na esperança do seu regresso. Fica pois como Comandante interino o mais tarde 1º Comandante António Feliciano de Araújo da Silva Caldas.”11

Em 1908, adoece gravemente e regressa a Portugal. “ … aí por volta da implantação da República quando um pobre velho, farto de sofrer, e já meio aniquilado por uma doença que não perdôa, regressou ao lar, à terra em que nasceu, ao vale formoso que guardava as cinzas dos seus maiores. Antes, tinha lutado com o vigor da mocidade ainda, e, tinha-nos legado, aos vizelenses, uma Corporação que perdurou, e há bem pouco ainda completou 64 anos de existência, um tanto ou quanto acidentada. Da grande fortuna que honradamente granjeara em Terras de Santa Cruz, nada lhe restava a não ser uma lúcida inteligência e um coração bom.”12

Regressado então a Vizela, o imparável Armindo Pereira da Costa logo sonhou um novo e árduo projecto para Vizela – “… uma estrada através da encosta escalvada e pedregosa do monte de S. Bento, que terminasse junto à pequena capela — e ali uma estância de repouso â semelhança da Penha e Santa Luzia.”13

Chamaram-no de doido, de paranóico, a ele, um visionário precoce, que era capaz de projectar um futuro onde outros viam muros!

Embora sozinho, não desistiu à primeira. Escreveu ao Governo da Nação e pedir a construção da Estrada para o São Bento, e com o mesmo fim dirigiu-se `a Câmara de Guimarães, ao Dr. Manuel Monteiro, a Luís Pinto de S. Castro, a Carlos Chambers, a Claudino Pinto de S. Castro, e a tantos outros. Leva a mensagem a todos os jornais que consegue: A Montanha, A República, Jornal de Notícias, Primeiro de Janeiro, Diário de Notícias, Comércio do Porto, O Mundo, A Lucta, Jornal do Rio (Brasil), etc, etc.”14

Em Março de 1914, à sua própria custa compra árvores que planta no São Bento e chegou mesmo a fazer uma grande festa, com foguetes e bandeiras, lá no alto, mas o seu esforço não colheu frutos.

A estrada para o São Bento tardaria ainda 30 anos a tornar-se realidade.

De acordo com Francisco Armindo Pereira da Costa, seu neto, Armindo Pereira da Costa, para além da sua dedicação aos bombeiros e à terra, tinha talento de escritor que revelou em vários artigos que escreveu para o Comércio do Porto, Jornal de Notícias e Primeiro de Janeiro. Crónicas, comentários políticos, notícias, publicadas entre 1913 e 1916, que, de acordo com a Dra. Maria José Pacheco revelam o “vigor e a força que dele emanam”15 , apesar da doença que o afligia. A luta pela autonomia administrativa de Vizela está também presente nos seus artigos.

Na política era adeto entusiasta do Partido Evolucionista, liderado por António José de Almeida, que colhia também a simpatia do médico vizelense Dr. Armindo de Freitas. Em Vizela, militou no Centro Republicano de Vizela, criado em 1911, que advogava a descentralização e a autonomia local.

Esreveu crónicas em diversos jornais, como o jornal Estrela do Norte e Primeiro de Janeiro, no Porto, entre outros. Foi ainda Presidente da Junta de Freguesia de São Miguel das Caldas.16

Homem de grande integridade moral, preocupado com os mais desfavorecidos, persistente, dinâmico, crítico, era também muito humilde. “ … a ternura com que sempre fala dos Bombeiros Voluntários de Vizela (omitindo o seu papel de fundador da Associação e de membro do seu corpo ativo).”17

Faleceu subitamente a 17 de Novembro de 1917, com 63 anos apenas, não sem antes ter-lhe sido atribuído o título de Comandante Honorário da Real Associação de Bombeiros Voluntários de Vizela.

“Morreu já o fundador, o benemérito da vila, Armindo Pereira da Costa, mas como sombra eterna, vive no sacrário da casa do Voluntário, dando-lhe coragem e incitamento para bem desempenhar a mais nobre e leal missão humana. Como nota comovedora os seus antigos camaradas Manuel da Costa, Joaquim Teixeira Niscranço, Diamantino José Antunes, Domingos Gaio – e outro a que a memória me faz negaças, além de estarem dia e noite como guarda de honra, foram ao sótão do antigo quartel, abriram a caixa onde a sua farda de gala o esperava e vestiram-lha. Em cada conhecido teve um amigo. Não contando com os seus irmãos camaradas da Corporação, os seus principais e indefectíveis amigos foram: Abade de Tagilde, Padre João Gomes de Oliveira Guimarães, arqueólogo; Abílio da Costa Torres, médico; Dr. Armindo de Freitas Ribeiro, médico; e o grande e valoroso Bombeiro Português Guilherme Gomes Fernandes.”18

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1. Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vizela. Bodas de Diamante da Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vizela. Vizela 1952.
2. Padre António José Ferreira C. Guimarães - Apontamentos para a sua História, 2nd ed. Guimarães: CMG/SMS, 1996. https://www.csarmento.uminho.pt/site/files/original/f3fee65bb89945eba9e09efa16d294b8923ee1e1.pdf.
3. O Imparcial (Guimarães). April 13, 1877.
4. O Imparcial (Guimarães). Maio 8, 1877
5. O Imparcial (Guimarães). Maio 4, 1877
6. O Imparcial (Guimarães). Maio 29, 1877
7. Notícias de Vizela (Vizela). Abril 1, 1973
8. O Imparcial (Guimarães). Junho 8, 1877
9. O Imparcial (Guimarães). Julho 7, 1877
10. Notícias de Vizela (Vizela). Abril 1, 1973.
11. Júlio Damas. Sonho que se faz realidade: Inauguração do novo quartel, Vizela: Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vizela, 1988.
12. Júlio Damas. "À memória de Armindo Pereira da Costa e Dr. Manuel Caídas - A César o que é de César . . ." Notícias de Guimarães (Guimarães), Julho 27, 1941. 13. Idem
14. Idibem
15. Notícias de Vizela (Vizela). Junho 14, 1991.
16. Commercio de Guimarães (Guimarães). Outubro, 1884.
17. Padre António José Ferreira C. Guimarães - Apontamentos para a sua História, 2nd ed. Guimarães: CMG/SMS, 1996. https://www.csarmento.uminho.pt/site/files/original/f3fee65bb89945eba9e09efa16d294b8923ee1e1.pdf. Idem
18. Júlio Damas. Sonho que se faz realidade: Inauguração do novo quartel,. Vizela: Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vizela, 1988.

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